"Só não se perca ao entrar, no meu infinito particular"

sábado, 22 de janeiro de 2011

México – História Resumida – Parte III – Da Independência até tempos recentes

A guerra com os Estados Unidos da América e as reformas liberais

Durante grande parte do século XIX a situação política mexicana foi marcada pela constante instabilidade. A figura dominante do segundo quartel daquele século foi o ditador Antonio López de Santa Anna. Durante este período, foram perdidos para os Estados Unidos da América muitos dos territórios do norte do país. Santa Anna era o líder do país durante o conflito com o Texas, que se declarou independente do México em 1836, e ainda durante a Guerra Mexicano-Americana (1846-48). Desde esta guerra, os mexicanos lamentam a perda de metade do território inicialmente mexicano, parte por coerção e uma maior parte ainda vendida pelo ditador Santa Anna em seu próprio proveito.

Em 1855 Ignacio Comonfort, líder dos que se diziam moderados, foi eleito presidente. Os moderados tentaram encontrar um meio-termo entre as posições dos liberais e dos conservadores. Durante a sua presidência foi aprovada uma nova constituição. A constituição de 1857, mantinha a maior parte dos rendimentos e privilégios de que a Igreja Católica desfrutava no período colonial, mas ao contrário da constituição anterior não identificava a Igreja Católica como a religião exclusiva do país. Tais reformas eram inaceitáveis para os líderes do clero e para os conservadores, tendo conduzido à excomunhão de vários membros do gabinete do presidente e ao estalar de uma rebelião, que levaria à Guerra da Reforma que se prolongou desde Dezembro de 1857 até Janeiro de 1861. Esta guerra civil tornou-se progressivamente mais sangrenta tendo produzido uma polarização política do país. Muitos dos moderados passaram-se para o campo dos liberais, convencidos que o grande poder político detido pela igreja tinha que ser reduzido. Durante algum tempo existiram mesmo dois governos, um liberal e outro conservador, sediados em Veracruz e na Cidade do México, respectivamente. A vitória na guerra acabaria por sorrir aos liberais, com o presidente liberal Benito Juárez a transferir a sua administração de novo para a Cidade do México.

A segunda intervenção francesa e o imperador Maximiliano

Os mandatos presidenciais de Benito Juárez (1858-71) foram interrompidos pelo regime monárquico da casa de Habsburgo. Os conservadores tentaram instaurar uma monarquia ao ajudar a trazer para o México um arquiduque da Casa Real da Áustria, conhecido como Maximiliano de Habsburgo e sua esposa Carlota de Habsburgo, contando com o apoio militar da França, interessada na exploração das ricas minas do noroeste do país.

Ainda que o exército francês, então considerado um dos mais eficientes do mundo, tenha sido inicialmente derrotado na Batalha de Puebla em 5 de Maio de 1862 (hoje em dia comemorada no feriado do Cinco de Mayo), os franceses acabariam por derrotar as forças do  governo mexicano comandadas pelo general Ignacio Zaragoza, entronizando Maximiliano como Imperador do México. Maximiliano de Habsburgo defendia o estabelecimento de uma monarquia limitada, partilhando o poder com um congresso democraticamente eleito. Esta posição era demasiadamente liberal para os conservadores mexicanos, enquanto que os liberais recusavam aceitar um monarca, deixando Maximiliano com poucos aliados dentro do México. Maximiliano acabaria por ser capturado e executado no Cerro de las campanas, Querétaro, pelas forças leais ao presidente Benito Juárez, que havia mantido o governo federal em funcionamento durante a intervenção. Em 1867 a república foi restaurada e elaborada uma nova constituição que, entre outras coisas, confiscava as vastas propriedades da Igreja Católica (que era senhoria de metade do país), estabelecia os casamentos civis e proibia a participação dos sacerdotes na política (separação entre Igreja e Estado).

No entanto, havia um grande ressentimento dos conservadores contra o presidente Juárez (que julgavam concentrar demasiado poder e desejar ser reeleito), o que conduziu à rebelião contra o governo liderada por um dos generais do exército, Porfírio Díaz, com a proclamação do Plano de Tuxtepec em 1876.

Ordem, progresso e a ditadura de Porfírio Díaz

Porfírio Díaz tornou-se então o novo presidente. Durante um período de mais de trinta anos (1876-1911), ele foi o homem forte do México, tendo as infra-estruturas do país sido substancialmente melhoradas, em grande parte graças ao investimento estrangeiro. Este período de prosperidade e relativa paz nacional ficou conhecido como o Porfiriato. Contudo, o povo não estava contente com a forma de governo utilizada durante o Porfiriato; os investidores eram atraídos pelos baixos salários dos operários, o que acabaria por provocar uma divisão social muito marcada. Apenas um punhado de investidores (nacionais e estrangeiros) enriquecia, enquanto a grande maioria do povo permanecia na mais abjecta pobreza. A democracia foi totalmente suprimida e a dissensão era tratada de modo repressivo, muitas vezes brutal.

Para Díaz, os indígenas do México eram um obstáculo ao progresso (apesar de séculos de civilizações pré-europeias avançadas) e o verdadeiro progresso era à Europeia.

A Revolução Mexicana

Em 1910, Díaz, então com 80 anos de idade, decidiu convocar eleições com vista à sua reeleição como presidente. Pensava ter há muito eliminado qualquer oposição capaz de lhe fazer frente no México; contudo, Francisco Madero, um acadêmico oriundo de uma família rica, decidiu concorrer contra ele tendo obtido rapidamente o apoio popular apesar de Díaz ter ordenado a sua prisão.

Quando os resultados oficiais da eleição foram anunciados, Díaz foi declarado vencedor quase unanimemente, com Madero a receber apenas algumas centenas de votos em todo o país. Esta fraude cometida pelo Porfiriato era demasiado gritante para ser ignorada pelo povo. Madero procedeu então à elaboração de um documento, conhecido como Plano de San Luis Potosí, no qual incitava o povo mexicano a pegar em armas contra o governo de Porfírio Díaz em 20 de Novembro, de 1910.

Assim teve início o que ficou conhecido como Revolução Mexicana. Madero foi detido em San Antonio, Texas, mas o seu plano surtiu efeito apesar de ele se encontrar preso. O exército federal foi derrotado pelas forças revolucionárias comandadas por, entre outros, Emiliano Zapata no sul, Pancho Villa e Pascual Orozco no norte e Venustiano Carranza. Porfírio Díaz renunciaria ao cargo de presidente em 1911 em prol da paz nacional, tendo-se exilado na França, onde morreria em 1915.

Os líderes revolucionários tinham muitos objetivos diferentes; as figuras revolucionárias iam de liberais como Madero a radicais como Emiliano Zapata e Pancho Villa. Como consequência, provou ser muito difícil conseguir um acordo sobre a organização de um governo emanado dos grupos revolucionários vitoriosos. O resultado foi uma luta pelo controle do governo, um conflito que se estendeu por mais de vinte anos. Este período de luta é geralmente considerado parte da Revolução Mexicana embora possa também ser visto como uma guerra civil. Durante este período seriam assassinados, entre muitos outros, os presidentes Francisco Madero (1911), Venustiano Carranza (1920), bem como os líderes revolucionários Emiliano Zapata (1919) e Pancho Villa (1923).

À resignação de Díaz sucedeu-se um breve interlúdio reacionário, com a eleição de Madero como presidente em 1911. Foi deposto e morto em 1913 por Victoriano Huerta. Venustiano Carranza, um antigo general revolucionário que se tornou um dos vários presidentes neste período conturbado, promulgou uma nova constituição em 5 de Fevereiro de 1917. A Constituição Mexicana de 1917 ainda hoje rege o México.

Álvaro Obregón torna-se presidente em 1921. Agradava a todos os grupos da sociedade mexicana, com excepção das franjas mais reacionárias do clero e dos grandes proprietários, tendo sido bem sucedido na catalisação da liberalização social, em particular reduzindo o papel da Igreja Católica, melhorando a educação e tomando medidas visando a instituição dos direitos civis das mulheres.

Ainda que a Revolução Mexicana e a guerra civil estivessem terminadas depois de 1920, os conflitos armados continuaram. O conflito mais abrangente desta época foi a luta entre os que queriam uma sociedade secular com separação entre Igreja e Estado e, por outro lado, os que defendiam a supremacia da Igreja Católica e que acabaria por resultar num levantamento armado por parte de apoiantes da Igreja, no que se chama a Guerra Cristera.

Estabilização e revolução institucionalizadas

O Partido Nacional Mexicano, ou PNM, foi formado, em 1929, pelo então presidente general Plutarco Elías Calles. Este partido tornar-se-ia mais tarde o Partido Revolucionário Institucional ou PRI, que governou o país durante o que restava do século XX. O PNM foi bem sucedido na tentativa de convencer a maioria dos generais revolucionários que ainda restavam a desmobilizar os seus exércitos pessoais que passaram a integrar o recém-criado Exército Mexicano. A fundação do PRI é considerada por alguns como o verdadeiro fim da Revolução Mexicana.

Em 1934 chega ao poder o presidente Lázaro Cárdenas, transformando o México: em 1 de Abril de 1936 enviou Calles, o último general com ambições ditatoriais, para o exílio; conseguiu ainda unir as diferentes facções dentro do PRI, estabelecendo as regras que permitiriam ao seu partido governar sozinho durante décadas, sem perturbações internas. No dia 18 de Março de 1938, procedeu à nacionalização das indústrias petrolíferas e elétricas; criou o Instituto Politécnico Nacional, concedeu asilo aos refugiados da Guerra Civil de Espanha, iniciou areforma agrária, a distribuição gratuita de livros escolares e, em geral, prosseguiu políticas que, para o bem e para o mal, marcaram o desenvolvimento do México até aos nossos dias.

Manuel Ávila Camacho, o sucessor de Cárdenas, foi presidente durante um período de transição entre a era revolucionária e a era da política de aparelho sob o domínio do PRI que duraria até ao ano 2000. Afastando-se da autarquia nacionalista, propôs-se criar um clima favorável ao investimento estrangeiro favorecido, havia duas gerações, por Madero. O regime de Camacho congelou os salários, reprimiu as greves e perseguiu os dissedentes com base numa lei que proibia o crime de dissolução social. Assim, o PRI traía a herança da reforma agrária. Miguel Alemán Valdés, o sucessor de Camacho, chegaria mesmo a emendar o Artigo 27º da Constituição Mexicana de forma a proteger a elite dos proprietários.

Apesar de os regimes do PRI terem conseguido crescimento econômico e uma prosperidade relativa durante quase três décadas após a Segunda Guerra Mundial, a econômia sofreu vários colapsos e a agitação política aumentou no final dos anos 60, culminando no massacre de Tlatelolco, em 1968. Duas crises econômicas ocorreram em 1976 e 1982, após o que se procedeu à nacionalização da banca, considerada culpada dos problemas, num período que ficou conhecido como a Década Perdida. Nestas duas crises o peso mexicano foi desvalorizado e, até ao ano 2000, era normal ocorrer a desvalorização da moeda e um período de recessão no final de cada mandato presidencial, ou seja, de seis em seis anos. A crise de Dezembro de 1994, iniciada por uma desvalorização do peso mexicano, atirou o México para o caos econômico, despoletando a mais grave recessão do país em mais de meio século.

O fim da hegemonia do PRI

Em 1995 o presidente Ernesto Zedillo via-se confrontado com uma grave crise. Aconteceram manifestações na Cidade do México e a presença militar constante em Chiapas, após o aparecimento do Exército Zapatista de Libertação Nacional em 1994. Foi também Zedillo que dirigiu reformas políticas e eleitorais que reduziram a capacidade do PRI em manter o poder. Após as eleições de 1988, as quais foram extremamente disputadas e aparentemente perdidas pelo partido do governo, foi criado o Instituto Federal Electoral (IFE). Este instituto é dirigido por cidadãos e tem como missão certificar-se que as eleições são conduzidas de forma legal e justa. Como resultado do descontentamento popular, o candidato presidencial do Partido Acción Nacional (PAN), Vicente Fox Quesada foi eleito presidente em 2 de Julho de 2000, não tendo conseguido a maioria no congresso. O resultado desta eleição pôs termo a 71 anos de hegemonia do PRI na presidência.

Atualmente, as preocupações econômico-sociais incluem baixos salários reais, o emprego precário de grande parte da população, a desigualdade na distribuição dos rendimentos bem como as escassas oportunidades de melhoria de vida da população ameríndia dos estados empobrecidos do sul do país, apesar dos esforços feitos pelo governo sobretudo no controlo da inflação. O país continua a debater-se com problemas de  desenvolvimento, particularmente no setor petrolífero e nas relações comerciais com os Estados Unidos da América. A corrupção e violência com raízes no narcotráfico tornaram-se também um problema sério nos últimos anos.

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