"Só não se perca ao entrar, no meu infinito particular"

domingo, 9 de maio de 2010

Camboja – Antiguidade Gloriosa, Passado Vermelho

Por volta do ano 100, os povos da região sul do atual Camboja criaram o reino de Funan. Na Antiguidade, esse reino tornou-se um dos mais poderosos do sudeste da Ásia. Pouco a pouco, Funan perdeu poder e influência. Aproximadamente no ano 600, uma nova força, Chenla, surgia ao norte de Funan. O reino de Chenla desfez-se no séc. VIII.

Entre os séc. IX e XV, os khmers controlaram um grande reino hindu-budista no Camboja. Sua capital era Angkor. Os khmers construíram centenas de belos templos de pedra, além de canais de irrigação, hospitais, represas e rodovias. Os projetos de construção dispendiosos, as epidemias, as brigas internas da família real e as guerras com os tailandeses enfraqueceram esse Império. Forças tailandesas ocuparam Angkor em 1431 e os khmers abandonaram a cidade. Contudo, um reino khmer independente, cuja capital ficava perto da atual Phnom Penh, sobreviveu até meados do séc. XIX.

Em 1850, os franceses, que ocuparam o sul do Vietnã, se aproximam do Camboja. O rei, Norodom I (1859/1904), temendo um controle vietnamita assina um tratado em 1863 que transforma o país em protetorado do império colonial francês. Pressionado pelo governo da França, Norodom I concede a mudança do estatuto do país de protetorado para colônia, em 1884.

Os franceses preservam a monarquia e, ao dominar as insurreições contrárias à condição colonial, acabam por incorporar, em 1887, o Camboja à União da Indochina, que reúne seus domínios coloniais no Sudeste Asiático. A França mantém o controle do Camboja durante a maior parte da II Guerra Mundial, mas o poder efetivo é exercido pelo Japão, que ocupa toda a região.

Em 1941, Norodom Sihanouk assumiu o trono ao 18 anos de idade, sob os interesses franceses. As forças tailandesas e japonesas que ocuparam o Camboja de 1941 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, se retiram com o fim da guerra e o domínio francês se reestabelece. Nos anos seguintes, o Camboja lutou por sua independência e sob pressão dos nacionalistas, o rei Sihanouk assina, em novembro de 1953, um acordo de independência, o qual foi reconhecido pela França em 1954.

Em 1955, o rei Norodom Sihanouk abdicou do trono em favor de seu pai, a fim de desempenhar um papel político mais ativo. Tomou o título de príncipe, tornou-se primeiro-ministro em 1955 e chefe de Estado em 1960.

Em meados da década de 1960, a organização comunista Khmer Rouge (Khmer Vermelho) inicia uma rebelião contra o governo. Ao mesmo tempo, o território cambojano é utilizado como refúgio pelas tropas norte-vietnamitas (utilizando da famosa trilha Ho Chi Minh para entrar no país) e por guerrilheiros comunistas do Vietnã do Sul. Os Estados Unidos (EUA) usam esse fato como argumento para bombardear o país, e se torna cada vez mais difícil manter o Camboja à margem da Guerra do Vietnã.

Os EUA com receio que se iniciasse um governo comunista no Camboja, faz com que Sihanouk seja deposto em 1970, pelo marechal Lon Nol, seu antigo primeiro-ministro, num golpe político. O rei se refugia na China e forma um governo no exílio, em parceria com o Khmer Rouge, que se opunha ao governo de Lon Nol. O regime de Lon Nol tem a autoridade limitada aos centros urbanos, que vão sendo cercados pelos guerrilheiros do Khemr Rouge, que vão se fortificando cada vez mais.

Em 1975, o governo de Lon Nol está insustentável devido ao poder que o Khmer Rouge ganha sobre o país. Lon Nol foge para os EUA deixando a situação política do país em fragilizada. Enquanto ocorriam comemorações em Phnon Penh, o Khmer Rouge toma a capital e faz com que todos evacuem a cidade, sob o argumento que a cidade estava sob perigo e todos poderiam voltar em poucos dias (o retorno só ocorreu 45 meses depois).

Sihanouk volta para o país a pedido do Khmer Rouge e é declarado chefe de Estado, sendo mantido em prisão domiciliar enquanto, na realidade, Pol Pot governava o país. Em 1976, Sihanouk renuncia e Pol Pot, líder máximo do Khmer Rouge, torna-se primeiro-ministro. Com o apoio da China ele dá início a um governo até então inédito, o qual priorizava a agricultura e a vida no campo, esvaziando todas as cidades e eliminando a indústria local.

Inicialmente seus planos parecem funcionar, com toda a população no campo produzindo seu próprio alimento. No entanto, conforme a produção vai sendo voltada para a exportação as pessoas ficam sem seu próprio alimento e passam a adoecer, recusando-se a continuar o trabalho no campo. O trabalho passa então a ser forçado e surge a suspeita de que o regime do Khmer Rouge está sendo sabotado pelo Vietnã e pelo EUA. Assim, tem início a busca, prisão, tortura e morte de toda a população mais instruída, estrangeiros, políticos e qualquer um que não estivesse contente com o regime.

Nesse período cerca de 3 milhões (25% da população da época) é morta nas prisões, campos de concentração ou nas lavouras de trabalho forçado, pelo Khmer Rouge, que devido à constante paranóia de sabotagem e inimigos internos, vai se enfraquecendo cada vez mais.

O Khmer Rouge aproxima-se da China e adota uma política agressiva em relação ao Vietnã, o qual tem o apoio da União Soviética (URSS). Em dezembro de 1978, o Camboja é invadido por tropas vietnamitas que tomam a capital Phnon Penh em poucos dias. Eles então instalam no poder dissidentes cambojanos liderados pelo vietnamita Heng Samrin. Em 1982, as forças oposicionistas formam uma aliança, cujos dirigentes são Sihanouk (presidente), Son Sann (primeiro-ministro) e um dos líderes do Khmer Rouge, Khieu Samphan (vice-presidente). A aliança recebe a aprovação da China e dos EUA. A URSS continua auxiliando o governo de Samrin no Vietnã.

Em 1989 depois de diversas negociações internacionais, os vietnamitas deixam o território cambojano e, no ano seguinte, as quatro facções (o governo, Sihanouk, o Khmer Rouge e o grupo de Son Sann) aceitam a formação da Autoridade Transitória da Organização das Nações Unidas (ONU) no Camboja. Em 1991 assinam um acordo de paz. Em 1993, o partido de Sihanouk vence as eleições parlamentares e forma um governo com os membros do antigo regime pró-vietnamita, liderados por Hun Sen. Uma nova Constituição é aprovada em setembro, e Sihanouk é coroado rei da recém-estabelecida monarquia parlamentarista. Em outubro, a Assembléia Nacional indica o príncipe Norodom Ranariddh (filho de Sihanouk) e Hun Sen como primeiros-ministros. Em julho de 1997, Hun Sen dá um golpe de Estado, o que põe fim a quatro anos de coabitação entre adversários políticos. O príncipe Ranariddh foge para Paris.

Depois de passar 18 anos escondido na selva, o líder do Khmer Rouge, Pol Pot, reaparece, em 1997. O próprio grupo guerrilheiro, reduzido a poucos milhares de integrantes, prende Pol Pot e o condena à prisão perpétua. Em 1998, ele morre na prisão domiciliar, supostamente de ataque cardíaco. Em fevereiro de 1998, Hun Sen aceita a volta de Ranariddh e a realização de eleições parlamentares. O vitorioso no pleito de julho é o Partido do Povo Cambojano (KPK), de Hun Sen, que se mantém no cargo de primeiro-ministro. Ranariddh passa a presidir a Assembléia Nacional.

Em 1999, tropas do governo capturam Ta Mok, líder das forças remanescentes do Khmer Rouge. Sua prisão intensifica as pressões da oposição interna e da ONU para que os responsáveis pelos crimes cometidos pelo Khmer Rouge sejam julgados. Hun Sen reluta emaceitar processos contra os antigos dirigentes, muitos em cargos importantes no governo e nas Forças Armadas. Em 2000, o Camboja obtém empréstimo de 548 milhões de dólares, concedido por países como os EUA, que apóiam o julgamento. No mesmo ano, Hun Sen assina acordo com a ONU que determina a criação de um tribunal especial para julgar os líderes do Khmer Rouge por crimes contra a humanidade.

Em 2001, a Assembléia Nacional aprova o acordo com a ONU, mas estabelece que só serão julgados os indivíduos com "responsabilidade máxima" pelas atrocidades. Em 2002, a ONU retira o apoio ao tribunal, alegando que não há imparcialidade nos julgamentos. Somente em junho de 2003, após novas negociações, os dois lados chegam a um entendimento.

Nas eleições parlamentares de julho, o KPK de Hun Sen elege 73 dos 123 parlamentares, não alcançando os dois terços necessários para governar sozinho. As negociações para a formação do gabinete estendem-se por quase um ano. Em julho de 2004, a Assembléia Nacional aprova o novo governo, uma coalizão entre o KPK e a Frente Nacional Unida por um Camboja Independente, Neutro, Pacífico e Cooperativo (Funcinpec), do príncipe Norodom Ranariddh. Hun Sen permanece como premiê.

Em outubro de 2004, o Camboja ingressa na Organização Mundial do Comércio (OMC). No mesmo mês é aprovada a instalação do tribunal, com o apoio da ONU, que julgará os dirigentes do Khmer Rouge. Também em outubro, o rei Norodom Sihanouk abdica ao trono, alegando que está com a saúde frágil. O Conselho do Trono do Camboja elege seu filho, o príncipe Norodom Sihamoni, o novo soberano.

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